quinta-feira, 28 de abril de 2016

Festival DDD - Dias da Dança

SEX 29 ABR / DIA MUNDIAL DA DANÇA

Os finalistas da escola artística Balleteatro, apresentam o espetáculo "Dança #3" na sexta, dia 29, às 21h, no Mosteiro São Bento da Vitória — Teatro Nacional São João.
 

Com a intenção de explorar as potencialidades dos Claustros do Mosteiro, a peça coreográfica nasce da ideia que existe um antes, uma história que a antecede - ela é já um terceiro momento de algo que aconteceu.
 

Entrada é gratuita


SEX 29 ABR / DIA MUNDIAL DA DANÇA

© Joana Cardoso Reis

Nas comemorações do ‪Dia Mundial da Dança‬, Dinis Machado apresenta, no Cine-Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, a sua mais recente criação, PARADIGMA — "uma dança de um exotismos de lado nenhum".
 

O espetáculo é apresentado sexta, 29, às 18h30, e sábado, 30 de abril, às 15h00.

Bilhetes 5,00 Eur


Esse Mundo lá longe

O último ano do Tua



Os portugueses, actualmente, são um povo com pouco Mundo. Parece que esta é uma afirmação incongruente, uma vez que cada vez se viaja mais, cada vez se emigra mais e o acesso é grande. No entanto, a verdade é que as viagens são, maioritariamente, para destinos de férias onde o pacote de "tudo incluído" ou os resorts escolhidos a dedo impedem, sempre, que o Mundo lá fora seja observado tal como é, tal como existe fora da bolha turística que, por cá também criámos para estrangeiro ver. Emigrando, as tacanhas necessidades de procurar a comunidade lusa e por aí encontrar o abraço, o apoio e o que faz falta, leva a que 40 anos de França, Luxemburgo ou Suiça, não cheguem para saber que países são aqueles fora das ruas dos "litle Portugal" espalhadas por aí. 

Os portugueses têm pouco Mundo e pouco país. Tirando as romagens ao Algarve ou à Serra da Estrela. Esquecendo os hotéis e montes alentejanos ou uma almoçarada "a norte", os portugueses não olham à volta e vivem o bairro, o bairrismo, os olhos no chão e a corrida para o metro. Vê-se umas coisas na televisão, uma espécie de realidade distante que lhe é colocada ao mesmo nível de uns longínquos refugiados bi-dimensionais.


Afirmar que o Douro, ou o Alto Douro Vinhateiro estará entre as dez regiões mais bonitas do Mundo é uma aformação que poderá ser feita por alguém que tem pouco Mundo. Assumo. Mas é. É também aquela região que demonstra bem a falta de Mundo dos portugueses que, de lá, pouco sabem, pouco conhecem e, diga-se, pouco se importam. "Tem vinho do Porto e um comboio, e depois?", imagino que se diga. Dessa forma, não será de estranhar que um qualquer Domingos Sequeira, fruto de uma campanha de marketing vitoriosa, tenha conseguido amealhar 600 mil euros para comprar um quadro que residirá, claro, em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Os portugueses, empresas incluídas, "comeram" a campanha, alimentaram-se nas televisões e primeiras páginas dos jornais e colocaram a "Adoração dos Magos" numa parede de onde dificilmente voltará a sair e será vista por uns milhares/ano. "Obrigado", regista o jornal Público, os portugueses mobilizaram-se.

A barragem do Tua continua a ser construída, mergulhando de forma incontornável um Património Mundial da UNESCO, composto por tamanha diversidade cultural que, digamos, apenas uma linha e um comboio bastaria para ofuscar qualquer Domingos Sequeira mas o que vimos, sobre o tema? Fogachos de pólvora seca que acabaram rapidamente. Os portugueses, as empresas, a comunicação social e o marketing estão longe; chegar ao Alto Douro dá trabalho, o MNAA fica ali mesmo, basta apanhar o metro. Propositadamente, deixo de fora os políticos e agentes culturais responsáveis, deixo de fora a EDP e empresas do ramo, igualmente pelo mesmo motivo: a acefalia vigente retira-os de qualquer equação que pretenda soluções ou evoluções; tratam-se de variáveis apenas utilizáveis em matérias ligadas a ficção científica ou semelhantes.


Pouco dado a petições ou crowdfundings, não resisti, no entanto, a deixar aqui o link (http://ultimoanodotua.pt/) de uma causa. Prefiro-a a Domingos Sequeira ou a qualquer petição sobre touradas. Prefiro-a porque, para mim, tipo de pouco Mundo, esta é a mais importante causa cultural das últimas décadas. Não espero grandes resultados, mesmo após a leitura, a vida continua, não há tempo. E depois "o Tua fica lá longe, a Síria também, e amanhã tenho que acordar cedo...". "É das regiões mais lindas do Mundo? Um destes dias passamos lá num fim-de-semana alargado..."

quarta-feira, 27 de abril de 2016

d'Orpheu

Nunca gostei do Mário.
Mas talvez esta seja uma declaração exagerada



O primeiro poema que li, teria uns 14 anos, foi de Almada Negreiros. Desde aí, um dos mais relevantes elementos do movimento futurista, ou modernista, no nosso país entrou-me no corpo e fez mossa até hoje. Permanece como a minha maior influência, é nascente de tudo o que se seguiu e, por arrasto, levou-me diretamente à sua obra e aos poetas d'Orpheu. Depressa dei por mim a ler toda a obra publicada de Almada Negreiros e viajar até Mário Sá Carneiro e, mais tarde, a entrar no Mundo de Fernando Pessoa. Curiosamente, nunca os consegui verdadeiramente separar, sempre os olhei individualmente mas à luz da revista Orpheu. Sem querer, puto como era, estava longe de perceber que, na verdade, eram mesmo inseparáveis. A poesia de Almada nunca foi, não fosse ela futurista, suave e líquida como a de Sá Carneiro ou Fernando Pessoa mas, talvez por isso, tenha sido importante encontrá-lo antes de tudo.

Serviu, esta entrada, para, de alguma forma, justificar a importância que teria que dar à exposição que decorre em Paredes de Coura - sim o Alto Minho tem uma intensa e interessante actividade cultural que não sobressai mais porque, enfim, centralismos - fundamentada nos 100 anos da morte de Mário de Sá Carneiro e que traça a profunda ligação entre Pessoa e Sá Carneiro. É correspondência trocada entre os dois e a visão clara das influências mútuas que, lá está, ficaram visíveis na revista Orpheu, por exemplo. Aqui Almada é um espectador. Ainda assim, trata-se de uma mostra comovente e imperdível pelo mais profundo sentir de dois dos mais importantes poetas portugueses de sempre.



Um grande, grande adeus do seu pobre Mário de Sá-Carneiro”.

Lê-se num bilhete amarelecido, de letra irregular, escrito e dirigido a Pessoa, momentos antes do suicídio do autor, em Paris. Lê-lo aqui arrepia, lido no manuscrito, presente na exposição, provocará o choro aos mais sensíveis.
"Mil Anos Me Separam de Amanhã", assim se chama a exposição, decorre num parque de estacionamento, assim, sem mais, sem mordomias ou mariquices, porque os d'Orpheu, sempre as dispensaram. Venham de lá esses vícios.



Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Só se fores burro...

... ou estiveres fora de Lisboa é que não vais.

Hoje, a troco de oito euros, a partir das 23 horas, no lisboeta Titanic Sur Mer, do inteligente Manuel João Vieira, João Peste e Luís San Payo juntam-se para ressuscitar os Pop Dell'Arte e recuarem até 1995 para recriarem, apesar das arteroses, o inesquecível "Sex Symbol". Haverá outros obrigatórios da banda que fez o favor de acontecer e fez o favor de estrear a Ama Romanta, etiqueta que ficará para a história como a nossa Factory. Lá em cima, Pedro Alvim estará atento.
Mas cuidado, é fácil apaixonarmo-nos pelo Peste, sempre foi e continua a ser. OK, devíamos estard e luto, o Prince morreu mas não foi de Peste, porque o Peste não sabia quem ele era e consta que o Prince também não conhecia o Peste, muito menos terá sido dela que morreu. A Ana Moura confirmará...

quinta-feira, 21 de abril de 2016

You're wise, Mr. Furnier

AC/DC com Axl Rose: “Mas quem é que não quer ver esse concerto?”, pergunta Alice Cooper


"É uma combinação tão única. Quem tiver bilhetes para esse concerto tem um bilhete dourado, porque quem é que não vai querer ver esse espetáculo?"

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A merda dos graus



Desta vez era Rui Lopes Graça o coreógrafo convidado.
O frisson instalou-se.
Perdera o Benvindo da Fonseca e agora o Lopes Graça.
Havia outros que se habituara a admirar e trabalhar com eles seria quase tudo, mas a merda da idade não deixava, a merda dos graus ainda não permitia.Fato após fato,com o rosa num passado que lhe parecia longínquo, sapatilha após sapatilha, pontas após pontas, suor após suor, lesão após lesão, os exames iam avançando com sucesso mas nunca o suficiente para, uma vez mais, estar no ano certo para absorver o Lopes Graça.
Restava-lhe esperar, restava-lhe ensaiar e um port-de-bras inesquecível. Talvez para o ano haja Paulo Ribeiro ou mesmo o Rui Horta. Afinal, dizem que o tempo passa a correr; serão só mais uns calos, mais uma dúzia de collants, mais um par de joelhos.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Quite while you still ahead



A entrada de Axl Rose para os AC/DC caiu como uma bomba no meio musical.
As opiniões não se fizeram esperar, abrindo barricadas pró e contra a entrada do líder dos Guns 'n Roses para a banda australiana.
Rose até seria a escolha correcta. Timbre, postura, qualidade e maturidade poderíam revelar uma escolha ideal para substituir Brian Johnson, mas isso simplesmente não é possível. Não será caso único mas em todos os anteriores as coisas não correram bem, aliás, só em Portugal tenho memória de uma mudança semelhante, por razões distintas, ter permitido à banda em causa aumentar sucessos e esquecer o passado, mal, quanto a mim. Foram os GNR que cresceram quando Rui Reininho tomou as rédeas até ali seguras por Alexandre Soares. Mas a dimensão dos AC/DC não é a dos GNR, talvez se aproxime dos Queen que passado décadas tiveram a coragem de testar, sem êxito mas com bilheteira, a inclusão de Adam Lambert na banda, ou dos Pink Floyd que nunca substituíram Roger Waters, os Joy Division que aceitaram a morte de Ian Curtis, os Rolling Stones seguiram sem Brian Jones ou dos Doors com Jim Morrison.
A verdade é que o próprio Brian Johnson não é um original, uma vez que já substituira Bon Scott, morto por excesso de álcool em 1980 e, antes disso, Dave Evans, esse sim the original, gravou o primeiro single da banda mas...foi demitido. Na altura, os AC/DC, que arrancaram em 1974, estavam em crescendo e as mudanças não terão sido notadas e, por isso, foram aceites e, no fim, acabou por correr bem. O caso agora é diferente, são 42 anos feitos de impressões digitais muito fortes de cada um dos membros, provavelmente incapazes de serem limpas ou postas de parte.
 


Os AC/DC são uma banda assombrada. Bon Scott morreu, Dave Evans foi despedido, Malcolm Young ficou demente, Phill Rudd teve problemas com a polícia e saiu e agora Brian está surdo. Mau demais para uma só banda que, no entanto, criou uma máquina tão grande que pará-la é quase impossível, só a quebra abrupta nas vendas o poderá fazer. Daí que o mais saudável talvez pudesse ser um fim honrado. Os Joy Division remanescentes transformaram-se nos New Order e o projecto não só funcionou como, tal como a banda anterior, tornou-se icónica. Talvez fosse altura dos sobreviventes dos AC/DC pudessem partir para um novo rumo deixando intacto o legado da mais lendária banda hard rock de sempre.
Provavelmente, a presença de Axl Rose durará apenas o tempo da tourneé europeia, numa espécie de balão de ensaio antes de passarem para os concertos norte-americanos. Depois o balanço será feito e a probabilidade de Axl manter-se é quase nula, até porque os Guns mantêm-se. E Brian pode regressar...nunca se sabe.
 

Mas e Axl? O que o motivou?
Não basta ter Slash, nem Slash tem pachorra para tudo, que salva uma banda como os Guns 'n Roses que, reconheça-se, teve um papel fundamental do renascimento do hard rock na década de 90. O virtuosismo do guitarrista apenas foi traído pela volatibilidade de um vocalista que tinha tanto de qualidade como de imaturidade. Desde aí, os Guns acabaram, caíram num poço, reergueram-se mas nunca mais foram os mesmos. O mundo tinha mudado, Axl tinha mudado mas nada seria igual, só Slash e só Slash não chega.
O desafio de integrar os AC/DC, mais do que golpe publicitário de Axl era, muito provavelmente, o concretizar de um sonho. Quantos recusariam integrar, nem que fosse por uma noite uma banda que serviu de inspiração, de referência? Não se pode levar a mal. Tenta, para o bem ou para o mal, mas tenta e tentar nunca pode ser censurável. E há ainda o benefício da dúvida, o quem sabe?
No vídeo que se segue, Axl tenta o Whole Lotta Rosie. Não têm a sonoridade dos AC/DC mas seria injusto dizer que Axl não cumpre...

E sim, os AC/DC (tal como os Cult) são referências minhas no que ao (hard)rock dizem respeito
 


 

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Miroslav Tichy: O fotógrafo imundo

O fotógrafo Miroslav Tichy apenas se tornou conhecido na República Checa recentemente, depois de ter sido reconhecido no estrangeiro. As suas fotografias, pouco usuais, foram exibidas em várias galerias de Londres, Nova Iorque e Zurique e, apesar da sua absoluta falta técnica e qualidade, os visitantes e os críticos ficaram impressionados. As fotos são agora vendidas por valores que ascendem aos dez mil euros.


Com quase 80 anos, Tichy foi sempre olhado como o verdadeiro excêntrico pelos vizinhos em Kyjov, uma pequena cidade checa. O seu trabalho reflecte a obssessão pelo corpo feminino. Mas enquanto outros fotógrafos pedem às mulheres para posarem, usam os melhores equipamentos e muitos cuidados no arquivamento das fotos, Tichy faz o oposto.
Ele costumava esconder-se nos arbustros e tirar fotografias de roupa interior de mulheres e raparigas com as suas câmaras feitas artesanalmente. As fotos, depois de deselvolvidas, eram deitadas fora e Tichy não queria mais saber delas.


“Todas demonstram observações muito cuidadas e atentas das mulheres de Kyjov, no dia-a-dia e nas trivialidades que fazem. Mas depressa apercebemo-nos que essas trivialidades, como alguém sentado num banco, mulheres à espera do autocarro, alguém a tirar a t-shirt numa piscina são, de alguma forma, extraordinárias. Tichy conseguia dar a estas banalidades um sentimento excepcional e raro. Apenas uma parte de um corpo de mulher, nas suas fotografias, pode parecer algo esotérico. Há imensas revistas que oferecem muito mais nudez do que Tichy mas ele é diferente. As coxas de uma mulher, entre os joelhos e a saia ou um fato-de-banho noas suas fotos parecem, de alguma forma, misteriosas”, diz Radek Horacek, o director da Brno House of Art que, actualmente, tem patente uma exposição do trabalho de Tichy.


“É como se um rapaz de onze anos se apaixonasse, roubasse uma foto da rapariga da classe e a colocasse no seu diário. Tichy até fazia esboços e desenhava frames com lápis ou caneta. Algumas fotos foram tiradas da televisão, algumas foram largadas por aí. Alguns românticos dizem até que há rastos de pequenas mordeduras de ratos nas fotos deixadas numa total confusão”.
Nos anos 40, Tichy estudou na Academia de Artes de Praga mas depois da chegada do comunismo, em 1948, à Checoslováquia, ele desistiu e regressou à Moravia. O artista solitário começou a pintar, a desenhar figuras e finalmente passou para a fotografia de forma defintiva com um único mote: mulheres. Nos anos 60 chegava a fazer cerca de 90 fotos por dia. Desconhecido e sem ser notado ele comportava-se como um voyeur tentando captar um precioso momento.


“Quando eu era um miúdo a minha avó costumava dizer-me: 'lava as mãos porque senão ficarás igual ao Mirek Tichy'. Para a minha avó era um exemplo proibido. Para mim sempre foi alguém magnético”, conta Roman Buxbaum, a pessoa que deu Tichy a conhecer ao Mundo. O amigo de infância do fotógrafo emigrou para a Suiça com a família, passados muitos anos regressou, descobriu as fotografias e começou a exibi-las pelo Mundo.



“Hoje em dia há muitos artistas a fazer fotografia. Eeles têm o mais moderno e digital equipamento e o melhor software de computador. Todos tentam fazer com que as suas fotos pareçam cruas, tentam torna-las documentos de uma realidade, mas conseguiremos acreditar num universitário de trinta e poucos anos? É simplesmente impossível, em particular se o compararmos com o Miroslav Tichy. Ele esconde-se numcasaco sujo, mal-cheiroso e velho atrás de muros e arbustros – tira fotografias de fragmentos de nudez feminina ou passos de uma mulher que desce a rua...”








CREDITS:
Miroslav Tichy
Wired

terça-feira, 12 de abril de 2016

Ich bin...

Os bares e discotecas de Berlim
reuniram 40 mil euros para os refugiados


Quando centenas de alemão deram as boas-vindas aos refugiados, na Estação Central de Munique, em Setembro último, a resposta do país à crise dos refugiados tornou-se um exemplo claro da decência humana por todo o Mundo.

De acordo com A BBC, a Alemanha garante asilo, actualmente,ao maior número de refugiados da Europa e a compaixão germânica parece ter chegado à famosa vida nocturna alemã. Uma nova campanha, chamada "Plus 1", juntou 40 mil euros para os refugiados, através de uma taxa adicional de 1€, nas entradas de bares e discotecas.

A iniciativa começou ja em Outubro, e mais de 80 locais aderiram às causas "Sea-Watch", "Moabit helps!" e "Berlin Refugees", numa contribuição que custa consideravelmente menos que uma cerveja, pelo que parece ter chegado para ficar na cena noctívaga alemã. A ideia é agora tentar que a "Plus 1", mudando ou não de nome, possa alastrar pelas noites europeias, nomeadamente, londrina, parisiense e, porque não, portuguesa.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A clássica rigidez

Nos ensaios para um novo espectáculo, habituada à rigidez feita leveza, pedida pela dança clássica reforçada pelo ênfase na linha do corpo obrigada por Enrico Cacchetti, defensor da repetição até à exaustão, a bailarina confronta-se com os desafios impostos pela adaptação aos furiosos anos 20/30, reinado do charleston, do swing e da proposta Gershwin a levar à Casa da Música.
"São os movimentos, as flexões do corpo, dos ombros...", constata enquanto revê mentalmente a coreografia que confunde as contagens com ups 'n downs. A cedência do corpo aos movimentos de um estilo que não pede o stiff clássico mas impede o lazy contemporâneo é trabalho de meses. "Espectacular mas complicado", reconhece.


"It's always possible to create something original"
- George Gershwin


"Terpsícore é uma deusa ciumenta"
-Enrico Cacchetti

domingo, 3 de abril de 2016

Fichas na mesa

 A sujidade de Marta e o precipício de Maria



O cenário musical português raramente muda muito. Fases de maior e melhor produção sucedem-se a outras inversas, no entanto, as revoluções nunca são profundas e longe vão os tempos em que um Chico Fininho provocava um vendaval imenso nas sonoridades que irrompiam pelos anos 80 do século passado.

Hoje não há bandas a sério ha, dizem eles, projectos, porque o voracidade dos tempos impede que existam bandas que lutam por um lugar ao sol e insistem no que acham estar certo; agora se não cola passa-se ao projecto seguinte.


Ainda assim, é bom reconhecer alguns nomes contemporâneos na música nacional em quem vale a pena apostar muitas ficas; não todas porque o risco é tão grande como aquele que corri quando garanti a pés juntos que  Norah Jones e Joss Stones eram ganhos garantidos. Não foram, o talento está lá os percursos perderam-se. Por outro lado, já me arrependi em ter apenas sussurrado futuros sem ter empurrado as fichas para a mesa. Clã ou Amy Winehouse foram sussurradas mas o pé manteve-se atrás.

Actualmente há dois projectos nacionais que acompanho religiosamente e em que coloquei um balde cheio de fichas: Mirror People e Marta Ren & The Groovelvets. Antes de tudo por duas vozes femininas que considero serem as melhores e mais surpreendentes do momento; Marta Ren e, no caso dos Mirror People & The Voyager Band, de Maria do Rosário. E ambas vão além das vozes, mergulham na postura e presença quase perfeitas para encabeçarem estes... projectos.



Se Marta Ren já tem muito caminho para trás, desde os Sloppy Joe, mantendo-se quase sempre fiel a um soul-funk continuamente melhor tema após tema, já Maria do Rosário abraçou os Mirror People quase por acaso e pelo ouvido clínico de Rui Maia (X-Wife) o inventor de um projecto que, pelo feitio irrequieto de Maia, temo poder não resistir ao tempo. Mas Maria do Rosário resistirá, neste ou noutro modelo, é disso que precisamos.

Marta Ren e Maria do Rosário são, assim, as minhas apostas para um futuro próximo e risonho que nos fará acreditar que nem tudo é marasmo em tempos de projectos tão curtos como arrojados, muitas vezes demasiado curtos e arrojados para que consigam maturar e criar o suficiente calo no nosso ouvido.



Sobre o mais recente trabalho de Marta Ren & The Groovelvets, o "Stop, Look & Listen", o jornal Público dizia, há tempos, em título que "a soul de Marta Ren é suja, grande e gorda". Na verdade o processo criativo que envolveu a procura dessa sujidade, quase vinílica, foi moroso mas valeu a pena e culminou com um disco onde Marta mostrou que só há um caminho: a Daptone Records, ninho único da soul, tal como a BlueNote dá guarida ao jazz e a Deutsche Gramophonne acolhe a clássica - lembram-se das salvações chamadas 4AD, Factory e até Ama Romanta?. O "Stop, Look & Listen" é proposta regular nas rádios internacionais, sobretudo, as de raíz soul-funk, mas falta um raide aos EUA ou um nome-chave que a "adopte"; Charles Bradley seria o sonho.

Já "Voyager", onde nasce Maria do Rosário, é resultado da constante instabilidade de Rui Maia que, um dia, quis escrever músicas para a pista de dança; já ninguém as faz. Maria do Rosário foi a voz que ele precisava e depois de "Voyager", passou a ser a voz que os Mirror People precisam e nós queremos. Rui Maia não precisa que o adoptem, Maria também não, mas seria bom que, como Josh Stone e Norah Jones, os percursos não se perdessem, os projectos não se sucedessem de forma tão vertiginosa que deixassemos de dar por ela, algo difícil de suceder.